segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O Encontro das magnólias

“O poeta é um ser que lambe as palavras depois alucina” (Manoel de Barros)


“Manoel de Barros consegue atingir o fantástico em sua obra que me deixa alucinado e me faz perguntar: Porque lamber só palavras? Sejamos sinceros existe coisa melhor que lamber? A língua é dividida em três partes, para que nosso paladar possa distinguir os sabores. Então calvininos e calvininas vamos lamber as palavras e tudo mais que nos é posto diante da vida para quem sabe então nos alucinar”.


No dia 31/07/2010 foi realizado o terceiro encontro das magnólias, um encontro esperado não só por elas, mas também pelos cuidadosos jardineiros que as regam todos os sábados. Diante da expectativa desse encontro os jardineiros se debruçam durante horas e horas em minuciosos estudos, buscando encontrar a combinação certa dos adubos para o jardim, buscam encontrar a fonte da água mais límpida para regar as magnólias, tudo isso para que esse encontro possa ser o mais florido e perfumado.
É chegada então a hora de reunir num só jardim todas as magnólias, fazer com que elas floresçam como um primeiro raiar de sol, com que elas recebem não só o adubo e a água trazida pelos jardineiros, mas que elas realizem entre si a fotossíntese. É importantíssimo esse processo de fotossíntese para uma magnólia, saber receber de outra tudo aquilo de bom que ela possa te oferecer e retribuir.
Agora retomando a minha respiração e com as expectativas controladas, tomo certo afastamento desse jardim, distancio o meu olhar e desloco meus pensamentos para o que estou vivendo naquele momento, apago qualquer resquício de prévio conhecimento dos calvininos e calvininas, passo uma borracha no que sei sobre o que foi preparado para aquele encontro e me delicio com as descobertas.
O interessante é observar como os jardineiros caminham numa linha tênue entre o certo e o errado, digo isso, pois não se tem formulas prontas o que é usado sempre segue o inesperado. E nesse processo é construído um pensamento comum entre os jardineiros. (mas sobre essa construção e preparação do adubo e a busca da água pura que resultam na vivência, vou deixar para outro momento)
O que me prende nesse texto é como as magnólias reagem a tudo que é exposto a elas, como essa vivência deixa de ser somente experimentada e transpassa o limite do lúdico e atinge o racional? Vejo que as magnólias estão mais abertas e dispostas, talvez seja o frescor da idade, fato é que elas brilham sem mesmo estarem postas ao sol. Existe muita energia dentro de cada uma e cada uma delas consegue receber e conceber de formas variáveis o que é derramado sobre elas. Existirá o aprofundamento? Não aquele onde os jardineiros direta ou indiretamente são responsáveis, questiono sobre o aprofundamento que cada uma das magnólias possam fazer sozinhas, um mergulho individual e coletivo, uma suspensão sobre o jardim e repensar sobre ele. Não é uma obrigação as suspensões, mas seria interessante poder ver as magnólias tomadas por um clima de desequilíbrio fantástico. Mas afirmo que já não são somente sementinhas que encontramos a alguns meses atrás.
Perdido nesse jardim de magnólias guardiãs de um imperador, invadido por embaixadores, esses seres se movem em direção ao desconhecido e tudo isso pode ser apenas uma passagem, um momento em que não se prende entre os abraços o corpo de nenhuma outra espécie, mas fica impresso na pele tudo aquilo que nos é oferecido. E não há como negar que somos feitos da mesma matéria, estamos dispostos a nos arriscar. Magnólias, os jardineiros as convidam não só para o bom da vida e sim para tudo da vida. Não via nada, eram apenas magnólias... E agora como Marco Polo irá dançar entre elas?
Por Ricardo Torelly

Um comentário:

Camila disse...

Olá Rick,
Adorei o seu texto. O nosso jardim está florescendo graças ao trabalho de todos. Parabéns Calvininos e Calvininas!
beijos

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