segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Roteiro – As Cidades Invisíveis

Cena 1 – O jardim de magnólias e o vazio de Kublai Khan

Escuridão. Ouve-se o som de uma respiração.

Sobe um foco de luz branco e se vê Kublai Khan, imperador dos tártaros, no meio do palco.

É a respiração do imperador ofegante.

Entra lentamente música: Rainbow Voice, de David Hykes.

Junto com a música, gradativamente, sobe um contra-luz verde. Vê-se a silhueta de um emaranhado de corpos atrás do Khan.

Com o jogo de ação e reação, no qual o imperador bate com seu cedro no chão e o grupo de corpos reage em estacato, todos caminham para o proscênio. Uma geral branca com gelatinas difusoras sobe à medida que o elenco avança.

Sai gradativamente música.

No proscênio, forma-se um quadro de corpos com o grande Khan no meio. E agora já é possível identificar aqueles corpos como magnólias do reino, todas estão focadas em seu imperador. A geral branca está alta. Kublai, por sua vez, olhando o público, ainda respira profundamente.

Entra música: Plantio do Caboclo, de Heitor Villa-Lobos.

As magnólias vão para o nível baixo e se espalham pelo palco. Com as costas no chão, joelhos dobrados e braços para alto, elas chacoalham suas mãos. Kublai Khan caminha por entre elas, como quem caminha em seu jardim. Coreografia a partir de jogos: quando o imperador chega perto de um grupo de magnólias, elas sacodem as mãos, quando ele se afasta, elas param; jogo do Siga o Mestre (utilizando os três solos: ensaboar, pedregulhos e colchão macio); formação dos três círculos giratórios; formação das duas grandes rodas, uma dentro da outra.

O grupo desmancha as duas rodas, Kublai Khan caminha lentamente em direção ao público.

Sai música.

Ele senta no proscênio com as pernas para fora do palco, respira forte. As magnólias se aproximam dele e falam.

Magnólias: Existe um momento na vida dos imperadores

que se segue ao orgulho pelos territórios que conquistamos.

É o desesperado momento em que se descobre que este império,

que nos parecia a soma de todas as maravilhas, não tem fim e não tem forma.

Ouve-se o som de um coro que vem da coxia: são os embaixadores do imperador.

As magnólias deitam no chão, abrem para as laterais do palco, esticam os braços para o alto, e os balançam.

Cena 2 – Os embaixadores do imperador

Entram os embaixadores do Grande Khan, em coro.

Cantam números e estatísticas do reino. Caminham até o proscênio e trazem Kublai até o centro do palco, as magnólias estão sentadas no chão com os braços para cima chacoalhando as mãos (utilizar diferentes posições, desenhos do corpo para elas). Mesma luz da cena anterior, apenas mais uma geral vermelha também com gelatinas difusoras na região central do palco.

Entra música: African Journey, de Sebastiano Anugama.

Os embaixadores tiram pequenos pergaminhos e caminham rodeando o imperador. Eles utilizam nível médio e nível alto até que alguns deles tiram dois grandes pergaminhos e envolvem o imperador em uma coreografia a partir de movimentos de enrolar e desenrolar. As magnólias, sentadas, continuam balançando os braços. A seqüência de movimentos termina com Kublai Khan sendo desenrolado subitamente. Ele rodopia enquanto saem seus embaixadores com os pergaminhos. Sai geral vermelha.

Sai gradativamente música.

Kublai Khan ainda rodopia, produz som junto com esse movimento.

As magnólias se levantam e vão até o imperador. Elas interrompem o rodopiar. Silêncio.

Ele vai até o proscênio e senta novamente com as pernas para fora do palco.

As flores vão até ele, olham para o público e falam.

Magnólias: Enviados para inspecionar as cidades mais distantes do reino, os embaixadores de nosso imperador retornam pontualmente a este jardim de magnólias, e fazem longos relatos.

Em seguida, Kublai Khan e suas magnólias ocupam o palco a partir do jogo Onde está a Bolinha Imaginária. Durante todo esse jogo o elenco produz sons que correspondem aos movimentos. Em determinado momento, na terceira parada própria do jogo, ouve-se novamente o coro dos embaixadores que canta mais números, mais estatísticas.

As magnólias rapidamente voltam para o chão e o Grande Khan vai para o centro do palco. Volta geral vermelha.

Toda a seqüência com o coro de embaixadores deve ser repetida a partir da entrada da música. No entanto, no momento da saída do coro, Marco Polo se destaca desse grupo e começa a fazer gestos como quem conta uma história. Kublai permanece rodopiando. Sai geral vermelha.

As flores vão para o proscênio e falam.

Magnólias: Recém-chegado e ignorando a língua daqui

Marco Polo, este embaixador, não podia se exprimir de outra maneira senão com gestos,

saltos, gritos de maravilha e de horror, latidos e vozes de animais,

Ou com objetos que ia extraindo da sacola.

Marco Polo começa a produzir sons correspondentes aos seus movimentos. Elas saem lentamente pelas laterais, mas antes param o imperador de girar.

Somente dois focos de luz brancos em Marco Polo e em Kublai Khan, um do lado do outro.

Marco Polo continua seu relato com pantomimas ainda com sons.

Cena 3 – O relato de Marco Polo, um embaixador diferente

Em cena, Kublai Khan e Marco Polo. O jovem veneziano continua seus relatos com pantomimas enquanto o imperador escuta e aplaude em determinados momentos.

Entram seis magnólias do fundo. Caminham até o proscênio, olham para o público e falam (primeiro, todas juntas e, depois, em duplas), conforme as falas abaixo. Durante o caminho delas sobe contra-luz verde com reforços na mesma cor frontais, além reforço baixo da geral branca.

As seis Magnólias juntas: Quando Marco Polo fazia seus relatos para o imperador, estabelecia-se entre eles uma comunicação diferente. Ele improvisava gestos que o soberano precisava interpretar.

Primeira dupla: Uma cidade era um grande salto, que parecia um peixe fugindo do anzol.

Segunda dupla: Outra cidade era o sacudir de mãos e pés, como se de lá quisesse fugir.

Terceira dupla: E ainda outra cidade era o rolar pelo chão, como se a alegria estourasse o peito.

Enquanto elas falam, caminham juntas contornando o palco e, depois, saem pelo fundo.

Entra música: Peer Gynt suíte I op 46 – Anitra´s Dance, de Edvard Grieg.

Kublai Khan e Marco Polo em cena. Sete jovens entram como Marco Polo de diferentes partes do palco, cada um contando suas histórias com gestos. O contra-luz verde gradativamente se transforma em âmbar. Aos poucos, os jovens (os Marcos) formam uma grande fila atrás do Marco que já estava em cena e, através do jogo Siga o Mestre, desenvolvem uma coreografia que envolve o grande imperador dos tártaros.

Passados alguns instantes, a fila de Marcos se dissipa. Cada um ocupa uma parte do palco e continua a contar sua história através de gestos, mas agora utilizam pequenos objetos que tiram de suas sacolas. De repente param em um círculo no plano médio envolta do grande Khan. Eles esticam os objetos na direção do imperador. Entram todas as magnólias, formam dois grupos em cada uma das laterais do palco. Todos aguardam ansiosos se o grande Kublai Khan vai ou não contar uma história com gestos e objetos.

Sai música.

Alguns segundos, o imperador olha para todos os objetos, olha para cada um dos presentes, olha para platéia... E finalmente pega alguns objetos, abre espaço no círculo, todos se espalham do meio para o fundo do palco. O Khan na frente conta sua história sem se importa com o resto. Aplausos de euforia de todos.

Entra novamente a música anterior.

Marcos e Magnólias comemoram. Jogam o jogo do Siga o Mestre mas agora utilizando os três solos (ensaboado, pedregulho e colchão macio). Depois, eles formam um parque de diversões com gestos e objetos tirados das sacolas dos marcos. Um trio de faz um carrossel que gira com cavalinhos miniaturas, um quarteto faz um trapézio com dois cabos de vassoura e ainda outro trio faz um gira-gira com um pequeno guarda-chuva.

Sai música.

Gradativamente o contra-luz âmbar dá espaço novamente para o verde.

Ouvem-se o som de magnólias e marcos brincando. Kublai Khan continua sua história, independente do grupo.

Cena 4 – A volta dos embaixadores e o fim dos números: um sentido para Khan

A festa continua. Magnólias e marcos ainda estão brincando no parque de diversões, formado por seus corpos e pela manipulação de objetos. Kublai Khan continua a contar sua história silenciosa, independente do grupo.

Entram os embaixadores do imperador, novamente cantando números e estatísticas, como se o mundo fosse somente isso. A iluminação volta como na segunda cena. A festa é interrompida. O grande Khan vai para o centro do palco enquanto magnólias e marcos abrem para as laterais.

Entra música: In the hall of the Mountain King, de Edvard Grieg.

O coro de embaixadores novamente tira pergaminhos gigantes de suas sacolas, como da primeira vez. Mas quando vão envolver seu imperador com os pergaminhos, o grupo de magnólias e de marcos avança para cima do coro e forma um grande círculo envolta deles e de Kublai Khan. A geral vermelha desaparece gradativamente, volta o âmbar. Quando abrem novamente, todos se posicionam um do lado do outro contornando a caixa preta, deixando livres a boca de cena e o proscênio. No centro do palco fica o coro de embaixadores enrolado nos pergaminhos indo de um lado a outro, sendo jogado por quem ocupa as laterais e o fundo.

Em um determinado momento, Kublai Khan saí de perto de seus súditos em direção ao centro do palco. Em seguida, expulsa o coro de embaixadores com seu cedro. Os embaixadores saem enrolados em seus próprios pergaminhos.

Sai música.

Todos em cena voltam a comemorar com aplausos, risos e gritos de euforia.

Entra música: Peer Gynt suíte II op 55 – Arabian Dance, de Edvard Grieg.

A festa agora acontece como uma coreografia que parte de brincadeiras e jogos lúdicos infantis (o pular corda, o bambolê, a amarelinha, o esconde-esconde, etc.), além do jogo de continuar a ação criada pelo outro. Variações das luzes anteriores.

Em um determinado momento, o grupo em festa carrega o grande Kublai Khan, anda de um lado para outro até para subitamente formando um grande quadro de esculturas corporais, o imperador permanece no alto. Cai repentinamente a luz, sobra somente o contra-luz verde do início e um foco branco no meio do palco.

Sai música.

De dentro do quadro formado com os corpos de magnólias e de marcos no meio do palco, o imperador, sustendo por seus súditos no nível alto, fala.

Kublai Khan: Basta um gesto, um salto, um rolar pelo chão no meio da paisagem para construir, pedaço por pedaço, a cidade perfeita!

Escuridão. Silêncio.

Fim

2 comentários:

Anônimo disse...

MARAVILHOSO O TRABALHO DE VOCÊS!!! ESTAVA CURIOSA PARA SABER COMO VOCÊ IRIAM ENCENAR AS CIDADES INVISÍVEIS...MARAVILHOSO!!!
MUITOS BEIJOS

Rynaldo Papoy disse...

Que louco isto, vou ler com calma.

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