domingo, 27 de junho de 2010

Cidade esquecida


Por Marília Salles

Na cidade esquecida o esquecimento é tudo o que se tem. Todas as coisas do mundo que foram esquecidas são retalhadas nessa cidade. A noite e o dia dessa cidade começam onde terminam. Uma parte da cidade é dia e a outra parte é noite em partes que nunca se misturam. Passa-se da noite para o dia em um passo. Na parte que é noite vivem os vagalumes que iluminam uma mãe e uma filha que sempre estão sozinhas. Elas brincam com as luzinhas que voam e assim se distraem. Esquecem que o dia nunca vai chegar. Entre as duas cidades uma corda bamba faz uma ligação entre as duas partes. Uma equilibrista se mantém firme em cima da corda sem se mexer. Ela está na noite da cidade e nunca quis chegar do outro lado, apenas se preocupa em manter o equilíbrio. Na parte que é dia um homem se embriaga de luz, cambaleia, se desequilibra e perde os sentidos. Quando acorda ainda é dia. No dia, sol e chuva se revezam e fazem surgir o arco-íris. O arco-íris se coloca por cima de um fundo de quintal com uma menina sentada na balança. Ele se coloca ali para que a menina tente alcançá-lo com sua balança. Na entrada da cidade está escrito: “Não é agradável ser esquecido e, no entanto, somos esquecidos de um jeito ou de outro durante toda a vida.” Eis que nesse momento chega-se a cidade “Esquecida”.

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