sábado, 14 de agosto de 2010

Um rascunho para 10 mil temas

Num dia desses de loucura em que a lógica do pensamento se faz presente sem que haja consciência do próprio pensamento, sendo isso muito pior do que simplesmente pensar, há um constrangimento da própria loucura em estar sã. E se o mundo é a totalidade dos fatos e não das coisas, tem dias que eu sou fato e em outros eu sou coisa, e isso é muito pior do que ser. Antes não tivesse sido para não deixar de ser. Na teoria não poderia, mas na sanidade da loucura eu posso. Porque há dias de solidão e outros de comunhão. Eu estou falando do espaço que há entre o eu e as relações dos fatos e das coisas. Sempre há um vão. Existe algo que não alcançamos e talvez seja esta a explicação de tanta tecnologia e avanço. Mesmo que haja todas as possibilidades numa única coisa, algo nos escapa. Inventamos as nossas verdades todos os dias. Por isso não me pergunte uma verdade, porque ela pode durar o tempo da mentira. Pode durar um vão. A crença vai até onde convém. Porque há dias que eu gosto de acreditar que há todas as possibilidades da realidade nos livros de uma única biblioteca. É muito mais poético do que o código binário. Mas seria tão mais fácil usar somente 0 e 1 para realizar todas as operações em dias em que os vãos aparecem. Mas ainda assim algo escapa e isso torna a vida cheia de vãos; mas não em vão. É apenas uma possibilidade de vida.


O momento em que o corpo e mente se convergem em uma única coisa quase nunca se conseguiu descrever em detalhes por se tratar de outra coisa e não haver separação. Nessa hora de convergência eis que surge outra coisa: um corpo que reflete sobre o próprio pensamento sem que para isso se precise distanciar e pensar. Isso nada mais é do que viver. Talvez por isso haja tanto sentido em conjugar o verbo vivenciar em todos os tempos. Pensar sobre o que me passou é alterar a rota do mundo no próprio presente que vira passado. Nessa hora o meu passado já é outro. Quando torno a minha experiência uma vivência do presente eu estou não somente alterando a rota do mundo como a minha própria rota por que sou parte do mundo. Quando eu mostro a minha expressão de algo que já se tornou experiência altero o próprio fato e o seu sentido. O sujeito ganha sentido em sua própria essência. Congregar o meu conhecimento em uma única coisa poderia ser a coisa mais simples. O mais simples se torna o mais difícil quando se quer tornar o pensamento palpável e não se percebe que o simples não pensar torna qualquer movimento grandioso. Assim como passar de um movimento ao silêncio – porque daquilo que não se pode falar deve ficar no silêncio. Eis que assim surge a minha cidade que nada tem haver com a cidade do meu vizinho.

Um beijo doce a todos os Calvininos que tornam nossas vivências e rascunhos possíveis!

Da Calvinina Marília
No ensaio de 14/08/2010.

Um comentário:

Anônimo disse...

Arrasou e emocionou!

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